quarta-feira, 16 de abril de 2008

CEL. RENYLDO FERREIRA

Peço licença ao Cel. Renyldo e ao Clube Hípico de Santo Amaro para transpor nestas páginas uma emocionante entrevista concedida pelo maior ícone do Hipismo brasileiro, agora articulista da coluna "Ainda me lembro bem..." da CHSA, e que, apesar de tantos ensinamentos passados ao longo desses anos, tem muito a nos ensinar.



“Cavaleiro emérito, administrador dos mais capazes, professor, instrutor e conselheiro cuja proficiência pode ser medida pela legião de amazonas e cavaleiros que projetou no cenário hípico nacional e internacional. Satisfação para os mais antigos com tanto a recordar, alegria para os que ainda são parte dela, exemplo marcante para as novas gerações, responsáveis pela continuação de tanta beleza, o hipismo brasileiro encontrou no coronel Renyldo Ferreira o resgate definitivo de sua brilhante história.
Nélson Pessoa Filho”
Com estas palavras, votadas como prefácio ao livro “A História do Hipismo Brasileiro”, o gênio “Neco”, a se referir a Renyldo Ferreira, tenta sintetizar algo, que por sua essência, é de uma abrangência nada sintética, seja pelo vasto talento esportivo de cavaleiro, seja pela força pétrea de propósitos em tudo na vida, seja pela fé inquebrantável nas próprias decisões e julgamentos, fruto de anos de auto-disciplina, seja pelo invulgar amor ao esporte eqüestre ou – e em especial – seja pelas muitas e muitas décadas dedicadas à compreensão íntima, científica e sensitiva deste nosso misterioso ponto de união, o Cavalo.
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Falar de Renyldo Pedro Guimarães Ferreira – o nosso “Coronel” – é falar, de fato, da História do Hipismo do Brasil.
Coronel do Exército, iniciou a carreira militar em 1943, como Aspirante a Oficial de Cavalaria. Em 1946 fez o curso de Instrutor de Equitação e em ascensão fulminante, ao cabo de dois anos, integrava, nas Pistas de Londres, em um longínquo 1948, a primeira Equipe de Hipismo Nacional Brasileira a disputar uma olimpíada; esta façanha seria repetida, após quatro anos, nas Olimpíadas de Helsinque, quando o Brasil obteve um promissor quarto lugar na modalidade de Salto; seguir-se-iam, ainda, Estocolmo-1956 e Roma-1960. Quatro Jogos Olímpicos em seu currículo assim, afora, ainda, uma infinidade de competições internacionais de primeiríssimo nível, participando, também, de quatro Jogos Pan-Americanos: Buenos Aires-1951, Chicago-1959 (medalha de prata por equipes), São Paulo-1963 e Winnipeg-1967, ocasião em que se deu o “Batismo do Ouro” para uma equipe de Salto brasileira. Ganhador da medalha de ouro da FEI, ainda venceu para o Brasil, em 1956, a inédita medalha de ouro da Copa das Nações, por equipes, no Templo do Hipismo, Aachen.
Recordista brasileiro de pontos obtidos em provas oficiais, diz a lenda que, se juntados todos os troféus e medalhas adquiridos em pistas nacionais e estrangeiras, devidamente fundidos, seria possível se usar o metal resultante para se construir a estrutura de um prédio de quatro andares – com dois subsolos.
Estes galardões, honrarias, vitórias, títulos de virtuosismo esportivo, contudo, não dão a devida proporção de Renyldo Ferreira; tampouco se lembrar que tem sido um dos mais participativos administradores da história de nosso esporte, controlando por dezesseis anos os caminhos da Federação Paulista de Hipismo, nos momentos em que não estava sentado por três mandatos na cadeira de Presidente do Clube Hípico de Santo Amaro.
Inexprimível se dimensionar a veneração que todos seus alunos – alguns destes já se assomando a condição de mitos do Hipismo eles próprios – sentem pelo mestre, que indistintamente os deixava com o sangue gelado, respiração suspensa, durante aqueles instantes em que se calava, mirando-os fundo nos olhos, antes de uma aprovação ou de uma reprimenda.
Mais que cavaleiros, Renyldo Ferreira tem formado Homens Vencedores através de sua didática simples, objetiva e verdadeira, sempre comparando a Equitação com a Vida: “O salto tem de ser sempre tomado em crescendo; aumentando-se progressivamente a andadura, é “namorar/noivar/casar”. Um lance mais curto, outro médio e o último, antes da batida, mais largo”, ou, então, “não se pode queimar etapas, cada passo tem de ser dado a seu tempo; é imperativo partir do fácil para o difícil.”
Não satisfeito em ter escrito pelas pistas do mundo algumas das mais belas páginas esportivas do Hipismo, tampouco satisfeito em ter construído com suas próprias mãos ginetes maravilhosos, Renyldo Ferreira leva, bem alto, a bandeira de entregar às gerações mais novas a tradição de nosso esporte, tanto assim, que agora se transformou no maior escritor do gênero, tendo iniciado sua obra literária com a edição de a “História do Hipismo Brasileiro”, já reeditada. Mais há por vir.
Homem de várias, marcantes e, por vezes, diferentes características: Altivo e simples ao mesmo tempo; franco e dotado de refinado senso político; de temperamento mercurial, contudo, trazido sob a batuta de aço de um raro autocontrole; se aquinhoado de invulgar talento inato pela Sorte, sim, foi com suor que o agigantou, na lida diária, árdua, paciente, na dor de ossos quebrados e olhos gastos de estudos intermináveis. Idolatrado e temido, Renyldo Ferreira é, sobretudo, um homem sensível, amante da Ecologia, do tipo-“família”, que isto cada vez menos esconde nos últimos tempos, sempre cercado de “gente miúda”, avô em constantes desvelos e cuidados pelos netos.
Esta condição humana, de homem que de tudo já viu e provou um pouco, pois vem de longe, nesta estrada da vida, Renyldo Ferreira deixa escapar, de forma singular, na introdução de sua obra “História do Hipismo Brasileiro”, acima citada:
“Ao longo e par de tudo o que fiz e passei na vida, se sucesso alcancei, devo a uma sólida retaguarda: minha família. À frente dela - lembrando a bela Canção da Cavalaria - minha “estrela guia”, força maior” que em negros horizontes” me guiou” na luta e na vitória” : Dulcinha, minha mulher. A ela, meus filhos Mauro, Marcello e Márcio, netos e a todos aqueles que acreditaram que pudesse fazê-lo, ofereço este livro”.
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Os olhos deste carioca da gema, nascido no Bairro Imperial de São Christóvão, torcedor do Botafogo de Garrincha, - porém tão essencialmente “bandeirante” e são-paulino de coração -, nascido no dia de São Pedro do ano de 1923, enchem-se de doçura e de ardor, ao relembrar sua primeira montada, enquanto vai dando curso ao diálogo com suas lembranças, sempre sob o seu mais estrito controle, como a medir as voltas, os obstáculos e os lanços de um percurso imaginário:
“ - ...Bem, eu tinha uns sete anos e morava no Regimento de Cavalaria Marechal Caetano de Faria, já que meu pai, Coronel Pedro Delphino Ferreira Junior, comandava aquela unidade da Polícia Militar do, então, Distrito Federal, na cidade do Rio de Janeiro. Comecei a ter aulas com um tenente do Regimento que era instrutor de volteio-militar... esse tenente era pai do futuro General Péricles; eu me dedicava muito aos ensinamentos recebidos, assim, em pouco tempo eu, menino, era o “testa” do grupo, liderando a equipe de volteio do Regimento”.
Neste instante, o interlocutor pergunta ao “Coronel Renyldo” se ele se lembra do nome do primeiro cavalo que ele já montara. Olhar vagando ao longe, o homem de cabelos brancos cortados rente, de expressão rude e traços esculpidos em pedra, de gestos decididos - hábito de anos e anos de caserna, no comando de homens e cavalos -, repentinamente se abranda, como revivendo naquele exato instante, à sua frente, há 78 anos, aquele primeiro olhos-nos-olhos com sua primeira montada; o “Coronel-Menino” ilumina o rosto num caloroso sorriso, mira seu interlocutor no fundo dos olhos e diz:
“ - Sim...lembro... Seu número era “62”. É, o “62”; tinha uma pelagem negra luzidia...Ah!, estava no fundo da memória...quanto tempo!”.
Ternamente emocionado e um ‘tantico’ contrafeito, pressionado que era pelo interlocutor insistente que cobrava qual o nome, enfim, do “primeiro cavalo” que ele tinha montado na vida, já com os olhos disfarçadamente marejados, como se estivesse cometendo a indiscrição de confessar a terceiros o nome da jovem que recebera seu primeiro beijo de amor, Renyldo Ferreira se dá por vencido e revela, sorrindo:
“- ‘Coração’... o nome do primeiro cavalo que montei... era ‘Coração’ ”.
Mistérios e transcendências à parte de tal nome, este “Coração” despertou uma das maiores paixões já vistas no relacionamento Homem x Cavalo nesta “História do Hipismo Brasileiro”; quiçá tanto, porém, mais amor ninguém deu ao nosso esporte que o velho “Coronel”.
Receba uma cenoura “Coração”, esteja onde estiver nos campos do bem-querer, como reconhecimento e gratidão de toda uma gente amante deste esporte tão especial que - de forma aqui tão difícil de expressar -, até muito antes de nascer, pisou, também, em teu estribo.
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Obrigado Prof. Renyldo!

Um comentário:

Anônimo disse...

O coronel RENYLDO FERREIRA é um dos ícones da equitação de salto brasileira, porque defendeu junto com o, então, major ELOY MENESES o pavilhão nacional nas competições européias, meu Pai o general de cavalaria JOÃO AUGUSTO MONTARROYOS tinha pelo cel Renyldo uma especial admiração, de quem falava da elegância,do fino trato e de especial dom na condução de cavalos durante um percurso de salto. Que Deus lhe proprocione vida longa, com muita saúde, para lucro dos cavaleiros brasileiros.O CAVALO UNE AS PESSOAS DE BEM.