quinta-feira, 29 de maio de 2008

Aprenda primeiro; salte depois


“Sabe quantos talentos agente perde por falta de atenção ?” Li esta frase em uma camiseta, certamente esta mensagem deveria levar o leitor pensar em algo muito diferente do que pensei, mas alguém já se deu conta da quantidade de cavalos e cavaleiros que nosso esporte perde simplesmente por falta de atenção, ou melhor, por falta de conhecimento?
Infelizmente, praticar hipismo não é simplesmente sentar-se sob o dorso de um cavalo e colocá-lo frente ao obstáculo para que salte. Há um conjunto de conhecimentos básicos imprescindíveis , sem os quais o cavaleiro não poderá sequer iniciar a prática de hipismo, se não souber, ele certamente estará praticando um outro esporte, não hipismo. Estes conhecimentos têm sido negligenciados pela grande maioria dos instrutores que se dedicam à formação de jovens cavaleiros, na maioria das vezes por não saberem, por nunca terem sido adequadamente treinados para esta função, outras, sucumbem a pressão dos pais dos cavaleiros e atropelam o processo de aprendizado, muitos pais querem ver seus filhos competindo e ganhando, mas não permitem que instrutor realize o processo no tempo certo.
Num esporte onde a comunicação entre a “equipe” não é verbal, cada detalhe faz muita diferença. O cavalo aprende a “ouvir” nossos movimentos, interpretá-los e acatá-los. Portanto, temos que saber o que e porque estamos fazendo e o como queremos que o cavalo execute.
Sentar-se na sela com equilíbrio, atrapalhar o menos possível a naturalidade de movimentos do animal, entender o mecanismo do salto do cavalo e até seu campo de visão, são alguns dos aprendizados básicos que o praticante de salto deve saber.
É absolutamente flagrante a diferença entre um cavaleiro que sabe e entende os porquês do que faz sob um cavalo e aquele que simplesmente foi jogado sob a sela e mira os obstáculos sem a mínima noção do esporte. Este segundo grupo, a princípio se diverte mais e tem mais resultados porém o risco de sofrer um acidente é muito maior e, muito rapidamente tudo muda, sente-se perdido, sem entender porque num dia seu cavalo saltava e ganhava e no outro simplesmente se recusa.
O pior, é que quando chega neste ponto, toda a ira e frustração são descarregadas no pobre cavalo, que não pode se defender. Mas logo aparece um dos gênios de plantão que vai certamente dar a solução para o problema : “Este cavalo não presta, você tem que comprar um melhor”. E lá vai o incauto atrás de um cavalo caro que pensa irá resolver seu problema. Como se fosse um carro, o cidadão acha que comprando o melhor estará se habilitando ao sucesso, a vitória. Mas, após algum tempo o bom e caro animal também vai começar a ter problemas com seu cavaleiro, não vai entender as ordens desconcertadas e voltará o sentimento de frustração, de fracasso.
Pois bem, neste ponto alguns desistem, outros seguem gastando cada vez mais dinheiro trocando freqüentemente de cavalo. Veja quantos talentos perdemos nesta trajetória, ex-cavaleiros decepcionados e frustrados e cavalos traumatizados irrecuperáveis.
É preciso criar a consciência de que aprender, com método, com pessoas capazes, minimizando riscos de acidentes é a única maneira de se chegar ao hipismo, nas outras situações o que se aprende é outro esporte, bem longe da equitação.


Texto de Ivan Camargo

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Reprodução - Para Quê e Porquê?







A qualidade é um valor comercial. Para verificar este facto basta-nos observar todos os anúncios a automóveis, computadores e champôs. Isto verifica-se também no mundo do cavalo, factor que podemos constatar assistindo a um leilão de cavalos por essa Europa fora e observando os que atingem preços mais altos - constata-se facilmente que são os de alta qualidade.
Ultimamente os criadores procuram garanhões muito cotados em publicações da especialidade, chegando mesmo a navegar na Internet e a ver vídeos de diversos padreadores de qualidade para fazerem a escolha mais apropriada e rentável.
No entanto, entanto, e antes de penetrarmos neste processo, interroguemo-nos se valerá realmente a pena pôr a nossa égua a criar?
Esta pergunta pode acabar por evidenciar revelações chocantes a muitos proprietários, mas é conveniente que as pessoas em cause estejam devidamente elucidadas.
Não foi há muito tempo, que o excesso de produção de cavalos de qualidade inferior, fizeram com que os preços caíssem em espiral – isto sucedeu nos anos 80 e 90. Por vezes verificamos que a produção pode exceder a procura, muito particularmente quando a falta de qualidade contribui para o aumento de produção.
Não é nada provável que éguas de fraca qualidade produzam poldros de qualidade ou que possam vir a dar qualquer lucro. Existem muitas razões aceitáveis para produzir um poldro, mas nenhuma razão válida para produzir um poldro de má qualidade. Os proprietários que aspiram a ser criadores devem avaliar criticamente as suas éguas no que diz respeito a pedigree e reprodução: se obteve bons resultados nos campos de provas, se a sua conformação é boa, se o temperamento é adequado e se tem um pedigree aceitável, então tem probabilidades de obter um bom produto. Se a resposta às perguntas feitas for negativa não é provável que consiga um bom poldro.
As éguas com 16 anos ou mais têm uma menor capacidade reprodutiva assim como as éguas utilizadas intensivamente em desporto. Pode não ser rentável por éguas mais velhas a criar, muito particularmente se não produzirem poldros nos dois anos anteriores.
A genética tende sempre para a qualidade média, razão pela qual não deve aspirar a ser criador se a sua égua não apresentar qualidades superiores.
Está provado que a habilidade, a capacidade atlética, a velocidade e os andamentos são hereditários, acreditando-se que a égua contribui mais de 50% na formação do poldro. É devido a isso que um cavalo só é intitulado de meio irmão se descender da mesma égua - não se diz que um cavalo é meio irmão de outro por ser filho do mesmo garanhão.
A mãe tem a maior influência possível sobre o poldro. É ela que o cria. O poldro nunca chega a encontrar-se com o pai, e por esse motivo o poldro adquirirá os hábitos da mãe, na hora da ração, na forma de se relacionar com os outros no campo ou seja, ser mandão ou mauzinho, passivo ou dominante, ou então introvertido e medrosos. Também adoptará a atitude da mãe no que se refere a maneio.
Por todos estes motivos, se começar com uma égua do seu agrado e a levar a ser coberta por um garanhão também do seu agrado, é provável que obtenha como resultado um poldro especial. Se for proprietário de uma égua puro sangue, de boa linhagem de obstáculos ou que tenha provado ser um bom animal de fundo, que tenha sido utilizada em corridas enquanto jovem e que depois se tornou num bom animal de CSO, e a levar a um bom garanhão, vai concerteza obter um poldro que poderá vir a prestar boas provas em CSO ou CCE. Também pode demonstrar aptidão para dressage.
Os padreadores podem passar à sua descendência, tamanho, conformação, alguma habilidade atlética, velocidade etc. mas nem sempre. Se a sua égua tiver uma conformação óssea delicada, o facto de a levar a um garanhão com muito osso não querer dizer que vai obter um produto intermédio.
Provavelmente obterá um determinado número de poldros pequenos antes de conseguir um que pareça ter o tamanho certo.
Não crie de uma égua que tinha dificuldade em executar esta ou aquela função, que se mostrava demasiado quente, cujos andamentos não eram famosos, ou que apresentou lesões demasiado cedo.
É óbvio que todos os cavalos têm este ou aquele problema perfeitamente perdoável. Tudo é perdoável se o cavalo for um "crack" nos outros aspectos.
Se for proprietário de uma égua excelente mas um pouco pequena, factor que o obrigava a esforçar-se muito para saltar a determinado nível que deu sempre o seu melhor, pode tentar melhorar os seus produtos comum garanhão um pouco maior, que tenha um bom recorde de endurance e velocidade provado consistentemente ao longo dos anos. Assegure-se de que o padreador que escolher tem qualidades que faltam à sua égua mas, esteja preparado para aceitar um poldro que não seja o seu ideal.
É imperdoável numa égua a birra de apoio (engolir ar) uma vez que ela passa o vício a outros. O seu próprio poldro pode não adquirir o vício mas qualquer um da manada o pode adquirir.
O simples facto de você ter uma égua e de esta se poder reproduzir não implica que o deva fazer.

Fonte: Equisport